Na
Escolinha as crianças brincavam muito, correndo, pulando e gritando,
estavam comemorando o Dia dos Pais e todos estavam muito felizes. Os
desenhos das crianças estavam espalhados por toda a escola e um em
especial chamou a atenção dos pais de Patrícia, enquanto todas as
outras crianças desenhavam jogos de futebol, famílias unidas e se
divertindo juntas o desenho de Patrícia era uma enorme Bandeira do
Brasil com cores fortes e sua assinatura logo abaixo.
Os pais de
Patrícia acharam que a pequena desenharia a enorme família que eles
possuem, ou corações e florzinhas como as outras meninas mas não,
desde pequena eles percebiam que Paty era diferente das outras
crianças, nas peças escolares ela sempre se pintava com as cores da
Bandeira Nacional e não era muito sociável com as outras crianças,
os livros que Paty levava para casa eram sempre a história de heróis
que conseguiam ajudar seus
países, matérias sobre atualidades e biografia de alguns
presidentes que
fizeram história no país onde foram eleitos, seus desenhos eram
sempre
brasões, bandeiras com o hino nacional, ela era diferente, nasceu
com
o sentimento de amor e devoção à pátria,
aos
seus símbolos e ao seu povo. Era Patriota desde o berço.
Uma
menina branca, estatura média tinha lindos olhos azuis com enormes
cabelos longos e pretos. Patrícia foi crescendo assim, uma menina
muito estudiosa e que sempre lutou por seus objetivos, na escola se
destacava por textos maravilhosos sobre tudo que estava acontecendo
na época normalmente envolvendo política.
Anos se
passaram e os dezoito anos de Paty estavam chegando, a mãe estava
ansiosa por esse dia mais do que a própria filha, pois decidiram que
seria um enorme festa já que nos 15 anos de Patrícia ela tinha
feito uma viagem à Londres e combinou que aos dezoito faria uma
festa para agradar a mãe. Paty não tinha muitos amigos, na verdade
nenhum, ela gostava de ficar lendo na hora do intervalo e a caminho
da escola escutava o bom e velho Rock'n'Roll, ela adorava.
Na
televisão só passavam as notícias de sempre, o povo indignado com
tanta roubalheira e corrupção, as coisas aumentavam de preços e a
qualidade não era vista de forma alguma por ninguém, Patricia se
revoltava com isso, ela ficava muito chateada com tudo que acontecia
e fazia várias coisas na escola para poder demostrar isso, cartazes
e alguns artigos no jornal mensal do colégio sempre eram muito
elogiados pelos pais dos alunos, porque o alunos mesmo não se
preocupavam com isso, jogavam fora ou deixavam por aí.
Até que
começou, COMEÇOU! Os noticiários e a rádio anunciavam “AS
PESSOAS ESTÃO INDO PARA A RUA PROTESTAR” o coração de Paty
acelerou enquanto ela estava indo para a escola no carro de seu pai.
Ele rapidamente olhou para ela e perguntou:
- O
que foi, minha filha?
A menina
estava parada olhando para o nada em choque e ao mesmo tempo dando um
sorriso.
- Você
não ouviu não, pai? As pessoas estão indo para as ruas
protestar!
- E o
que isso tem a ver com você? - o pai perguntou sem nenhuma
preocupação sobre o assunto.
- O
QUE TEM A VER COMIGO? - a garota indignada gritou. - Eu nunca
pensei que fosse estar viva para poder participar de uma coisa tão
grandiosa e linda dessas.
- Quem
disse que você vai participar? - disse o pai começando a ficar
preocupado. - Essas coisas são muito perigosas para uma
adolescente como você! Nem pense nisso.
A menina
calou-se e foi para a escola sem dizer nada com um aparência triste.
Dentro da escola ela foi direto para o banheiro e ficou por lá um tempo
chorando, ninguém foi ao seu encontro porque ela era uma garota
sozinha.
Chegando
em casa ela foi assistir aos noticiários e começou a perceber que
todas as pessoas estavam muito empenhadas em fazer aqueles protestos,
caras pintadas, grandes cartazes um show para derrubar e fazer com
que o governo e os políticos saibam que quem manda no país não são
eles e sim, O POVO.
Ela não
conseguiu, armou tudo para ir a Esplanada no dia seguinte sozinha, um
dia antes de sua enorme festa, sua mãe estava organizando tudo
sozinha.
No dia
seguinte ela se arrumou toda, colocou uma roupa descolada e toda
cheia de frases de protesto, pintou o rosto de verde e amarelo e fez
um enorme cartaz com algumas frases também. Quando ela ia saindo seu
pai chegou no quarto e viu a bagunça.
- Onde
você pensa que vai? - perguntou o pai assustado com aquela
bagunça.
- Irei
lutar pelas mudanças do meu país, pai! - disse a garota.
- Eu
disse que você não irá nesse protesto, é muito perigoso!
- Mas
eu já tenho quase 18 e não há nada que o senhor me diga que vá
fazer eu mudar de ideia. - a garota saiu de casa correndo e foi
para a parada de ônibus direto para a Esplanada.
A mãe
da garota apenas perguntou ao marido aonde ela tinha ido toda pintada
e ele respondeu:
- Foi
para as manifestações.
Chegando
lá ela estava sozinha cheia de cartazes e um garoto se aproximou e
perguntou se ela queria ajuda, ela aceitou. Era um garoto bem alto,
com os cabelos bagunçados, com o rosto todo pintado, uma flor na
orelha e umas roupas coloridas, parecia um hippie. No meio da bagunça
o papo foi fluindo e Paty viu uma possível amizade com aquele rapaz,
ela era mais velho que ela, tinha 24 anos e estava se formando em
Psicologia na Universidade chamava-se Eduardo. Estava lá pelos mesmo
motivos que ela e todos ali presentes, foi uma boa conversa até que
houve uma enorme correria e eles se perderam um do outro.
Patricia
ficou meio desanimada mas continuou com a manifestação até que foi
surpreendida por um policial não muito amigável, ela perguntou o
que ele queria e viu que ele e muitos ali estavam armados. Ficou com
medo e saiu correndo junto com uma multidão até que reencontrou o
rapaz que deu um lindo sorriso quando a viu, juntaram-se de novo e
ela e o garoto levantaram os cartazes felizes e foram em direção ao
Congresso Nacional. As coisas estavam começando a ficar violentas,
mas em poucos minutos todos conseguiram subir no Congresso, os
policiais não conseguiram fazer muito até uma certa hora.
Lá
estava Patricia, toda pintada e superfeliz por saber que aquele dia
iria ser mostrado nos próximos livros de história das próximas
gerações quando um fotógrafo se aproximou e perguntou:
- Posso
tirar uma foto do casal?
- Não
somos um casal. - disse Patricia.
- Mas
podemos ser! - disse Eduardo.
Patricia
ficou assustada e quando menos esperou Eduardo deu-lhe um beijo
apaixonante e envolvente que foi uma experiência única, até que...
o tiro foi escutado.Todos saíram correndo e nos braços de Eduardo
estava a bela menina, patriota, que levou uma bala perdida perto do
peito. Eduardo ficou desesperado pedindo ajuda mas era tarde,
Patricia estava perdendo muito sangue e não teria como tirá-la lá
de cima tão rápido, o local estava muito cheio chamar a ambulância
demorou muito, Eduardo ficou com ela até prestarem socorro, mas
quando chegaram o coração já tinha parado.
No dia
seguinte virou notícia, a mãe da garota inconformada e o pai se
sentindo culpado por ter deixado ela sair daquela maneira tão
rebelde. A foto que ela havia tirado com Eduardo foi o único
registro antes de seu falecimento, era essa foto que estava em todos
os jornais e nas notícias e no quarto de Eduardo. A festa de 18 anos
da garota não acontecera e o velório se resumia aos familiares e a
Eduardo que estava muito assustado com a situação.
Patricia
gostava de uma música do Renato Russo chamada “Love in the
Afternoon” que dizia “Os bons morrem jovem”, e isso aconteceu
com ela em um momento único em sua vida e um momento único em seu
país, sua foto com Eduardo com certeza seria uma daquelas fotos que
iriam para os livros de história de futuras gerações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário